IA contra superbactérias: O que o Brasil está fazendo e ainda precisa fazer!

Superbactérias são bactérias que ficam resistentes aos antibióticos que normalmente usamos. Isso complica muito infecções, aumentando o risco para pacientes, o tempo de internação, os custos do sistema de saúde e pode até colocar vidas em risco.
A inteligência artificial (IA) aparece como uma ferramenta nova nessa luta: ela ajuda cientistas a achar, em menos tempo, candidatos a antibióticos novos ou melhorar o uso dos que já existem. Aqui no Brasil, já há sinais de algumas iniciativas, mas muitos desafios ainda estão à frente.
Superbactérias são bactérias que ficam resistentes aos antibióticos que normalmente usamos. Isso complica muito infecções, aumentando o risco para pacientes, o tempo de internação, os custos do sistema de saúde e pode até colocar vidas em risco.
A inteligência artificial (IA) aparece como uma ferramenta nova nessa luta: ela ajuda cientistas a achar, em menos tempo, candidatos a antibióticos novos ou melhorar o uso dos que já existem. Aqui no Brasil, já há sinais de algumas iniciativas, mas muitos desafios ainda estão à frente.
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Situação no Brasil:
Dados preocupantes
- Um estudo da Parceria Global de Pesquisa e Desenvolvimento de Antibióticos (GARDP), publicado na The Lancet Infectious Diseases, mostrou que em 2019 o Brasil teve cerca de 101 mil casos graves de infecção por bactérias fortes resistentes a antibióticos de “última linha” (especialmente as chamadas gram-negativas resistentes a carbapenêmicos). Dessas, apenas 363 pessoas conseguiram acesso ao tratamento certo. Ou seja: 0,36% dos casos graves foram tratados adequadamente. iG Último Segundo+1
- Outro levantamento da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (Afip), apresentado em congresso da Associação para Diagnósticos e Medicina Laboratorial (ADLM), analisou amostras de hospitais brasileiros em 2022 e 2023. Das culturas de vigilância, entre 6% a 6,5% testaram positivo para bactérias resistentes. Klebsiella, Acinetobacter e Enterococcus são algumas das mais frequentes. CNN Brasil
- Também há registros de superbactérias em ambientes fora dos hospitais solos e animais. Pesquisa da USP em Ribeirão Preto encontrou Klebsiella pneumoniae, Klebsiella quasipneumoniae e outras espécies com múltipla resistência em solo e animais aquáticos. Isso mostra que o problema não é só hospitalar, mas ambiental e alimentar. CFF
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Exemplos de uso da IA no mundo, que servem de inspiração
Ainda não há estudos brasileiros muito avançados (até o momento) que indiquem antibióticos novos descobertos com IA no Brasil, mas no exterior já há vários exemplos:
- Na Universidade McMaster (Canadá), cientistas usaram IA para encontrar um novo antibiótico experimental chamado abaucin, que ataca especificamente a Acinetobacter baumannii, uma superbactéria crítica. Esse composto está em testes, mas representa como a IA pode reduzir muito o tempo de “achar” moléculas promissoras. UOL Notícias
- Outro estudo identificou uma nova classe de antibióticos que funciona contra Staphylococcus aureus resistente, usando modelos de aprendizagem profunda (deep learning) que preveem quais moléculas terão atividade antibacteriana. euronews+1
O que está faltando no Brasil
Para que a IA entre de fato para a prática aqui, precisamos enfrentar alguns obstáculos:
- Baixo acesso a tratamentos adequados — Como vimos, a grande maioria dos casos graves não recebe o antibiótico certo. Isso ocorre por falta de diagnóstico, laboratórios equipados, políticas de fornecimento e distribuição. Sem isso, descobrir novos antibióticos é só uma parte do problema. iG Último Segundo+1
- Infraestrutura de pesquisa limitada — Realizar testes de laboratório, cultivar bactérias resistentes, verificar toxicidade etc. exige laboratórios bem aparelhados. Embora haja centros bons no Brasil, nem todos os estados ou instituições têm essas condições.
- Financiamento sustentável — Pesquisar antibióticos não dá retorno financeiro tão rápido quanto outros tipos de medicamentos (ex: para doenças crônicas). Investimentos públicos e privados precisam fazer parcerias e garantir incentivos para que empresas se envolvam.
- Regulação, segurança e aprovação — Novos antibióticos precisam ser testados em humanos, passar por ensaios rigorosos. Isso exige tempo, dinheiro, expertise regulatória, além de protocolos éticos bem definidos.
- Capacitação — Poucos pesquisadores têm formação específica unindo microbiologia, bioinformática e IA. Também nos hospitais, diagnósticos rápidos, vigilância de resistência, precisam de pessoal treinado.
- Vigilância ambiental e One Health — Como vimos, resistência não está só em hospitais: solos, água, animais também são reservatórios de bactérias resistentes. Precisamos monitorar esses ambientes para entender como bactérias resistentes transitam entre humanos, animais, meio ambiente.
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Como a IA pode ajudar de forma prática no Brasil
Aqui vão algumas ideias de como a IA pode agregar, considerando nosso contexto:
- Usar IA para analisar sequências genéticas de bactérias isoladas no SUS, de laboratórios públicos, para identificar padrões de resistência, prever quais mutações estão mais propensas a surgir.
- Desenvolver IA para acelerar o processo de triagem de moléculas naturais brasileiras da biodiversidade para ver quais têm potencial antibacteriano. O Brasil tem uma enorme diversidade biológica que pode ser explorada.
- Sistemas de prescrição e orientação para médicos baseados em IA, que ajudem a escolher o antibiótico certo, evitar uso desnecessário ou errado. Isso pode reduzir seleção de resistência.
- Melhorar vigilância hospitalar com IA: analisar grandes volumes de resultados de cultura, de amostras de pacientes, para detectar surtos de bactérias resistentes cedo.
- Detectar e monitorar resistência em ambientes agrícolas, animais, rios usando IA para processar muitos dados ambientais, prever pontos de risco.
O que já dá pra fazer agora no Brasil
- Fortalecer centros como universidades (USP, Unifesp, etc.) para fazer parcerias em pesquisa IA + microbiologia. Financiar grupos que trabalham em ambientes de resistência, envolvendo ecossistemas distintos.
- Apoio público para infraestrutura laboratorial (equipamentos, reagentes) e de biotecnologia.
- Políticas de saúde que garantam acesso ao diagnóstico rápido de infecções resistentes para que se possam aplicar tratamentos certos logo.
- Incentivos regulatórios e fiscais para empresas investirem em antibióticos ou IA aplicada à saúde.
- Programas de formação: bioinformática, biologia molecular, ciência de dados aplicada a micro-organismos resistentes.
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Conclusão
Na DNACIS, acreditamos que a tecnologia é a chave para enfrentar os maiores desafios da saúde global. Embora nosso foco hoje seja em soluções digitais para gestão e atendimento ao paciente como sistemas de prontuário eletrônico, totens de autoatendimento e integração de fluxos clínicos, acompanhamos de perto os avanços em inteligência artificial aplicada à saúde.
A pesquisa sobre o uso da IA na descoberta de novos antibióticos mostra o potencial transformador dessa tecnologia. Mesmo não atuando diretamente no campo farmacêutico, reforçamos nosso compromisso em utilizar a inovação para apoiar instituições de saúde, ampliar a eficiência dos serviços e contribuir para um futuro mais saudável e seguro.
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Fontes:
- https://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2025-05-06/brasil-trata-so-0-36--das-infeccoes-por-superbacterias-graves.html
- https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/bacterias-super-resistentes-hospitais-brasileiros-registram-aumento-de-casos/
- https://site.cff.org.br/noticia/Noticias-gerais/12/05/2025/sp-conduzido-por-farmaceutica-estudo-encontra-superbacterias-em-areas-agricolas-e-animais
- https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2023/05/27/novo-antibiotico-capaz-de-matar-superbacterias-e-descoberto-com-ajuda-de-ia.htm
- https://pt.euronews.com/saude/2023/12/28/cientistas-descobrem-novos-antibioticos-utilizando-a-ia
- https://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/2025-05-06/brasil-trata-so-0-36--das-infeccoes-por-superbacterias-graves.html
- https://news.mit.edu/2023/using-ai-scientists-combat-drug-resistant-infections-0525